quarta-feira, 19 de março de 2014

Dia do Pai

É daqueles dias que adorava enterrar num baú trancado a sete chaves numa ilha deserta perdida no meio do mar.
Já lá vão seis anos em que esta data deixa de ser um dia feliz para ser um inferno, e a cada ano que passa, o inferno aumenta em todo o seu esplendor.
Desde que partiste, que toda aquela parte da minha alma gentil, carinhosa, cuidadosa, dada aos outros morreu também. Aquela menina que fazia as delicias dos outros tornou-se frágil e fria, criando aquela maldita armadura que a protege e afasta do mundo.
Contigo foram-se, acima de tudo, os sonhos.
Aquela menina que sempre quis entrar de branco numa igreja de braço dado contigo, agora quer as igrejas longe, aquela menina que adorava dar catequese, agora perdeu a fé, aquela que vivia a vida com intensidade e força, agora tem de lutar para a conseguir viver.
Hoje tentei rever-me nas imensas crianças que escolhiam a prenda para dar ao pai, e o pior, não consegui.
É como se da minha memória tivessem varrido todas as coisas boas que vivemos. Não me lembro dos aniversários, não me lembro dos jantares, das saídas, mas aquela maldita imagem daquele dia horrível, ai essa está cravada no coração e na memória, cravada com estacas bem fortes, não quer sair, não me deixa sossegar.
 A máscara da menina feliz, caí todas as noite quando estou sozinha, dou por mim a pensar em como estarás. Estarás bem? Já engordas-te? Visto que a ultima vez que tive contigo estavas mais magro. Também tens aí ovelhinhas para cuidar? E namoradas?
Acho que nunca desejei tanto voltar a comer aquela maldita massa de peixe que tu fazias e que todos adoravam menos eu.
Dói saber que nunca mais voltarei a sentir esse abraço que fazia todos os meus ossos estalarem.
Dói saber que nunca mais voltarei a andar de mão dada contigo enquanto dizias aos outros que era a tua namorada.
Dói saber que nunca mais voltarei a sentir o teu cheiro e ouvir a tua voz.
Dói muito.
Daria a vida por cinco minutos contigo, onde diria que és o único homem que alguma vez amei, dizer que me fazes muita falta, que sem ti a vida está como aquela maldita televisão a preto e branco que tinhas que só dava riscos.
A vida começou a ser um desafio diário, em que cada um é mais difícil que o outro, e não me posso ir abaixo para não preocupar os que me rodeiam. Um desafio que por ti hei-de vencer sempre, porque tu não eras um homem derrotista, eras sim um vencedor, que perante as adversidades da vida nunca cruzavas os braços.
Cometes-te erros? Sim, todos cometemos, uns mais graves que os outros, mas também vi a culpa corroer-te por dentro dia após dia, mas nunca a deixas-te ganhar, e eu serei assim, por mais difícil que seja a luta, por mais dolorosa que se torne, todos os dias irei erguer a cabeça e sorrir, tudo isso porque tu eras assim, e eu sei que tu não querias que as lágrimas me acompanhassem todos os dias.
Eras um Homem de H Gigante. Um exemplo de arrependimento e redenção. Uma lição de vida.

Amo-te e continuarei a amar-te sempre Velhote dos 47 anos (acho que os repetiste algumas 8x) xD
<3

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