quarta-feira, 2 de abril de 2014

Dançar...

Pequenina e sonhadora, assim era ela… Desde que se lembra, sempre sentiu uma necessidade incrível de rodopiar o corpo ao encontro dos sons que o mundo lhe dava. Só assim se sentia natural.
Cresceu mais um bocadinho, e a mãe ofereceu-lhe uma televisão para por no quarto. Nessa mesma semana começa uma novela em que a dança era palco principal. Horas davam e ela nem os olhos piscava, fascinada de frente para aquela caixa pouco colorida onde as imagens eram o centro do universo. Os seus olhos pareciam estrelas.
Ao dia seguinte, ela ia buscar um pano da cozinha da mãe, enrolava-o à volta da cintura e colocava-se em frente do pequenito espelho a tentar recriar os movimentos antes vistos. À noite a televisão era um palco, no dia seguinte ela tentava ser a actriz principal daquela novela sem personagens.


Os anos foram passando, e aquela menina sonhadora cresceu. A vida tomou rumos diferentes aos que ela sempre sonhou.
Agora uma pequena mulher, vê as coisas de forma diferente. Em pequena, sonhava ser como aquela actriz, ter roupas bonitas e brilhantes, com o cabelo comprido e uma maquilhagem árabe. Queria rodopiar o corpo ao som da melodia, enquanto os olhos se cruzavam com o homem da sua vida, mas hoje, já nada é assim…
Ela não realizou o seu sonho de menina, mas o seu sonho de menina também mudou quando ela se tornou mulher.
A dança continua a ser o centro da sua existência, mas se ela antes o fazia para mostrar aos outros, ela hoje fá-lo para se surpreender a si própria, para, dia após dia, superar as suas dificuldades e abraçar os seus dons que desde menina foram crescendo com ela.
Ela dança porque dançar não é apenas uma arte, é sim uma forma de vida.
É o ser actriz do palco da vida, o mostrar aos outros por movimentos o que sente. É ser a voz muda de uma melodia sem fim. Dança não só para exprimir os sentimentos, mas também para viver os sentimentos exprimidos. É como um labirinto em que as paredes estão cheias de memórias e momentos, e a cada passo ela se embrenha cada vez mais neles.
Dão-nos aquele abraço apertado, em que para continuarmos temos de dar mais uma pirueta e espalhar aquele abraço gigante pela audiência. Espalhar a magia.

E, naquele dia, o espectáculo de emoções até pode acabar, mas a cada segundo que a alma dela quiser, ela volta a cantar aquela melodia de incríveis letras mudas para quem tiver o desejo e a força de a conseguir ler.


Porque para ela, dançar não é só mais um hobbie, mas sim a sua vida escondida, aquela em que quando despe a roupa diária, se torna a personagem da sua novela real.